A turma do 4º ano da E. B. 1 de São Bartolomeu, no dia sete de maio, conheceu o engenheiro Gonçalo Quadros, fundador da Critical Software. Esta visita aconteceu porque o Engenheiro Gonçalo frequentou a Escola Básica do 1º Ciclo de São Bartolomeu, pertencente ao Agrupamento de Escolas Coimbra Centro,  quando era criança, do 1º ao 4º ano de escolaridade. 

Como tivemos muita curiosidade em saber mais sobre a sua vida, fizemos algumas questões, às quais respondeu com muito gosto. 

Em que ano nasceu?   

1962. Novembro.  

O mês do meu nascimento tem o dia do meu nascimento escrito nele, o que eu sempre achei muito engraçado. 

Quais as escolas de Coimbra que frequentou?   

Foi na vossa escola, São Bartolomeu, que tudo começou – 1º, 2º, 3º e 4º anos.  

Depois andei nas Anexas (que funcionavam nas instalações do antigo estádio de futebol, na Solum) – 5º e 6º anos.  

Daí passei para a Eugénio de Castro. E depois, antes de entrar na Universidade – 10º, 11º e 12º  – frequentei o Liceu Infanta D. Maria.  

Ainda me lembro de muitas coisas na escola de São Bartolomeu.  

Lembro-me, por exemplo, de que tínhamos pena de não podermos brincar com as meninas. No meu tempo as aulas eram separadas, de um lado as meninas, do outro, os meninos.  

Nós, os rapazes, passávamos muito tempo no intervalo encostados a um muro muito estreito que separava os dois recreios para podermos falar com elas.  

Também me lembro muito bem da última pergunta que o Sr. Professor me fez no exame do quarto ano (quarta-classe, na altura):  

De que cor é o bico do melro?  

Vocês sabem a resposta?  

Eu acertei essa pergunta e foi um alívio quando percebi que não havia mais.  

Qual foi o curso que escolheu para entrar na Universidade?   

Queria muito aprender tudo o que pudesse sobre computadores. Saber muito, tudo, sobre como eles funcionavam e faziam tantas coisas fantásticas que pareciam magia.  

Na altura não tínhamos um computador em casa! Isso de PC’s, de computadores portáteis, ou de um simples telemóvel, era ficção científica. Uma máquina capaz de fazer o que hoje faz um telemóvel ocupava uma sala inteira do tamanho da vossa sala de aulas.  

Quando tive de escolher, ainda não havia o curso de Engenharia Informática. O mais próximo era o de Engenharia Electrotécnica. E foi esse que escolhi. 

Quais as profissões que teve?   

A minha primeira profissão foi a de vendedor de livros, numa empresa que se chama Círculo de Leitores. Isso aconteceu ainda antes de entrar na Universidade. Procurava vender livros porta a porta ao final do dia ou hora de jantar, para ganhar algum dinheiro e poder comprar uma mota. Nunca fui bem sucedido e não gostava nada, mesmo nada, daquela profissão – principalmente de bater à porta de pessoas quando elas estavam a descansar. Prometi a mim mesmo que a minha profissão no futuro tinha de ser algo de que eu gostasse mesmo.  

Depois, quando terminei o curso, fui professor. A profissão mais bonita, e mais nobre, que se pode ter.  

Mas como eu queria muito ser engenheiro resolvi candidatar-me a uma posição de engenharia. Fui engenheiro de sistemas vários anos. Em resumo, tomava conta de computadores – garantia que eles funcionavam bem, sem falhas nem problemas.  

Mas depois, achei que devia criar uma empresa de engenharia que fosse minha. Queria ter a minha empresa, o meu projecto. A Critical nasceu, foi crescendo, e eu fui sendo cada vez mais um gestor, e cada vez menos um engenheiro.  

Mas gosto muito, também, de ser gestor, pelo que isso não foi um problema para mim. 

Qual foi a sua maior conquista?  

Ter amigos, bons amigos, foi a minha maior conquista. Fica tudo mais fácil na nossa vida quando temos amigos. Mas os amigos têm de ser conquistados, primeiro, e muito acarinhados, depois. Hoje tenho muitos amigos que vêm do tempo em que eu ainda andava na escola e com quem eu convivo com muita frequência. E isso é uma conquista espetacular, não acham?  

A Critical, começou, cresceu, tornou-se maior e mais forte, porque as pessoas que a desenvolveram se entre-ajudaram, souberam ultrapassar problemas, celebrar vitórias, trabalhar em conjunto para andar mais depressa e evitar zangas. Ter feito da Critical uma empresa grande, é uma conquista importante. Mas na verdade, isso não seria possível sem as pessoas que se juntaram à volta dela, que de forma muito cúmplice, muito unida, cada um trazendo coisas diversas, a fizeram crescer solidamente e rapidamente.    

Com quantos anos teve a ideia de fundar uma empresa de Software?   

Quando andava na Universidade, quando tinha cerca de 20 anos, sabia que mais tarde ou mais cedo ia ter uma empresa minha. Não sabia se ia conseguir ser bem sucedido, mas sabia que teria de tentar. A minha primeira tentativa, que fiz logo após ter terminado a minha Licenciatura, foi uma empresa chamada IX-Informática. Foi um completo falhanço.  

Só bem mais tarde voltei a tentar – e aí nasceu a Critical Software. 

Qual foi a sua inspiração para criar uma empresa? Houve mais pessoas a ajudar a fundar a empresa?   

A Apple, e seu fundador – o Steve Jobs – eram uma inspiração para mim (o meu primeiro computador foi um Apple Macintosh).  

O Fausto e o João, fundaram comigo a IX.  

Outro João, o Dino e eu, foram os fundadores da Critical. 

Em quantos países existe a Critical Software?   

Para além de Portugal, claro, a Critical tem subsidiárias, ou escritórios, nos Estados Unidos, no Reino Unido, e na Alemanha. Mas tem trabalhado em muitos outros países – algumas dezenas, nos cinco continentes. 

Pretende que a Critical Software chegue a mais países?   

A Critical vai continuar a crescer, pelo que, sim, espero que consiga chegar a ainda mais países. 

Alguma vez pensou que iria ter uma grande empresa como hoje tem?   

Acho que nunca pensei muito nisso. Não era assim tão importante saber onde iria chegar – ou seja, fazer com que ela fosse muito grande. Interessava o caminho, mas não tanto o destino, percebem? E isso é quase sempre assim nas nossas vidas: é o caminho que interessa (que tem de nos desafiar, motivar, apaixonar), e não o destino.
O sonho era mesmo ter a minha empresa e poder fazer o que eu gostasse de fazer enquanto engenheiro. Depois, todos os que trabalhavam na Critical, e porque gostavam mesmo de trabalhar na Critical, foram fazendo-a crescer. Quase sem darmos conta, a Critical cresceu e tornou-se grande. 

Ao longo da sua vida, pensou em ter outra profissão?   

Passou-me pela cabeça ser Médico, quando era jovem. Achava que talvez fosse a melhor forma de ajudar os outros.  

Mas as máquinas, principalmente os computadores, rapidamente me fizeram ver que o meu caminho tinha de ser o da engenharia. 

Recebeu algum prémio importante?  

A Critical recebeu vários prémios. Os prémios são bons porque nos fazem sentir muito orgulhosos e nos dão ainda mais energia, determinação, ambição, para continuarmos o nosso caminho.  

Todos os prémios que eu recebi são prémios da Critical (se não fosse a Critical, eles não existiriam).
Entre os mais importantes, estão aqueles que os nossos clientes nos deram e nos fizeram sentir os melhores do mundo! 

Onde arranjou tanta motivação para chegar onde chegou? Houve alguém que o motivou?   

Claro. Claro que sim.
Olhem à vossa volta. Não há pessoas de quem gostam muito? Pessoas que vos fazem sentir espetacularmente bem quando estão ao pé delas? Pessoas que vocês acham que fazem tudo, ou quase tudo, muito bem, e com quem vocês querem ser parecidas ou parecidos? Pessoas que vos inspiram?  

Pois bem. Eu encontrei várias pessoas dessas ao longo da minha vida. E continuo a encontrar.  

Se não tivermos quem nos inspire, se tivermos medo ou não tivermos vontade de ir à procura de quem nos possa inspirar, a nossa energia, a nossa motivação, murcha e acaba por desaparecer. 

Como é ser um dos homens mais importantes do mundo?   

O que acham que é ser importante? Será bom, ser importante?  

Eu acho que é bom sermos importantes para aqueles de quem gostamos muito.  

Se aqueles de quem eu gosto me acharem importante, se eu for importante para eles, então eu sou de facto importante e é muito, muito, bom ser importante!  

Se não, ser importante não serve para nada e não traz nada de muito bom. 

Estamos muito gratos em ouvir as suas palavras ao responder às questões que colocámos, que nos fizeram pensar e refletir onde nós poderemos chegar um dia e fazermos aquilo que mais gostarmos, seguindo a sua inspiração e o sucesso da sua vida. 

Obrigado!